26.5.09

2014

Um sucesso: mais de mil visitantes acompanharam as quatro semanas de eleições indianas neste blogue. Com a tomada de posse de Manmohan Singh e do seu governo Singh 2.0, termina aqui também a parceria IPRI-Público que acompanhou o que foi o maior exercício democrático de sempre, envolvendo um eleitorado de 714 milhões de indianos. Se tudo correr bem (especialmente para a Índia) repetir-se-á esta experiência em 2014. Até breve.

Valeu a pena

19.5.09

Lalu, where are you?


De ministro-coqueluche e ícone carismático no mundo da gestão e marketing indiano (um suposto "sucesso" à frente do importante ministério dos caminhos-de-ferro), Lalu sucumbiu ao voto útil e à força do seu novo avatar Nitish Kumar (Janata Dal, U) no Bihar. E agora, na dança das cadeiras, é bem possível que fique de fora:
Lalu' or`No Lalu'. These words might be a thing of discussion when Congress bosses would sit in Delhi to give final touches to the names which would be included in the new Union cabinet. However, if the Congress leaders from Bihar have their way, RJD chief Lalu Prasad would not find any place, not only in the Union cabinet, but also in the UPA fold.

Nova geração

Não há dúvida de que o Congresso avançou para estas eleições com um perfil e leque de candidatos bem mais jovem do que o BJP e a maioria dos outros partidos da oposição. Em grande medida, deve isso às lógicas dinásticas regionais que suportam o Congresso - há muitas mais mini-dinastias que replicam o monopólio nacional dos Nehru-Gandhi ao nível estadual e sub-estadual.

Se isso teve um impacto positivo entre o eleitorado já é uma questão mais complexa, mas é bem possível tendo em conta que metade dos indianos tem menos de 30 anos de idade. Até na liderança o Congresso apresentou-se mais jovem, com Manmohan (76) vs. Advani (81)!

Este debate na NDTV, com Sachin Pilot (INC, Rajastão) é interessante.

18.5.09

Rupia em alta

Os mercados efusivos:
“A stable, pro-reform government is just what India required amid signs of economic expectations bottoming out to inspire investor confidence,” said Priyanka Chakravarty, an analyst at Standard Chartered in Mumbai. “We view this as a positive development for Indian markets and the rupee, providing the much required extra push to the wall of money that has been waiting to buy.”

3 perguntas

No Público de ontem:

Três perguntas a Constantino Xavier, do Instituto Português de Relações Internacionais

Os vencedores estão "absolutamente confortáveis"

Como se explica esta vitória surpreendente do Congresso?
Acho que há três factores. O primeiro tem a ver com a liderança. Desde o início que o Congresso identificou os seus líderes: [O primeiro-ministro, Manmohan] Singh, com o seu perfil burocrático e técnico, Sonia Gandhi, a grande obreira da coligação, e depois Rahul Gandhi. O BJP [nacionalista hindu, na oposição] tinha só Advani, que enfrenta grande oposição.
Segundo, o Congresso forjou uma coligação pré-eleitoral, enquanto o BJP entrou muito sozinho e perdeu com isso [a derrota no estado de Orissa é um exemplo]... E, em terceiro lugar, há a conjuntura económica. O crescimento manteve-se à volta dos quatro, cinco por cento, e não havia incentivos suficientes para arriscar uma mudança, que neste momento é perigosa. Há uma tendência para partidos tecnocráticos de centro, porque as pessoas não estão dispostas a arriscar.
Evitou-se então a fragmentação partidária?
A entrada no Parlamento de partidos menores na última legislatura, sem cultura democrática, acabou por favorecer o Congresso porque chamou a atenção para os riscos de um caos no Parlamento [dominado pelas formações mais pequenas]. Os 20 deputados que faltam para uma maioria são uma ninharia. A UPA [Aliança Progressista Unida, coligação no poder] não se vai preocupar com isso. Está numa situação absolutamente confortável. Já não precisa de ir à caça dos pequenos partidos.
Quem são os vencidos?
O grande perdedor é o BJP, que tinha tudo para ganhar em 2004, falhou, e desde aí está num caos interno. Agora voltou a perder a oportunidade e arrisca-se a passar dez anos sem governar. Este é o fim da geração Vajpayee-Advani [ex-primeiro-ministro e o actual líder do BJP]. Advani foi o arquitecto do crescimento [dos nacionalistas hindus, na década de 1990], agora o partido vai ter de procurar um novo líder.
O segundo derrotado foi a esquerda. O Partido Comunista esteve associado ao caos do Verão passado. Ao retirar-se a meio ano das legislativas para se distanciar do Congresso [por oposição a um acordo nuclear com os EUA] ficou visto como oportunista. Para além disso, os comunistas mantêm uma linha ideológica conservadora que é uma contradição com as alianças que vai forjando com o grande capital.
E o terceiro perdedor foi a Terceira e Quarta Frente [alianças de partidos regionais e de castas], que nunca achei que fossem viáveis.
Francisca Gorjão Henriques

Rahul

Continuou por todo o fim-de-semana a glorificação de Rahul Gandhi nos media indianos. A lógica dinástica dos Nehru-Gandhi não é perpetuada pelo eleitorado, mas sim pela pela CNN-IBN e pelo Hindustan Times, braços mediáticos da máquina do Congresso.

Coincidências estratégicas

Enquanto que se anunciavam e celebravam os resultados eleitorais na Índia (incluindo no Tamil Nadu, que caiu nas mãos do Congresso), o Exército do Sri Lanka lançava a violenta ofensiva final contra os "tigres separatistas" do LTTE, anunciando-se agora a morte do seu líder histórico Prabhakaran. Parece que Colombo afinal sempre deu ouvidos aos pedidos do enviado especial de Nova Deli.

16.5.09

Vencedores: Bolsas e Washington

Implicações internacionais, in a nutshell: Comunistas fora do governo, vitória esmagadora do Congresso. A Sensex de Bombaim em alta. Washington respira de alívio. A Índia manterá o seu percurso estratégico-económico.

No seu lugar

Onde está a tão badalada Terceira Frente? E a Quarta? Em terceiro e quartos lugares, respectivamente. Reduzidas à insignificância que era óbvia num sistema crescentemente bipolar.

Fast and furious

Os resultados provisórios apontam para uma vitória histórica do Congresso. Se conseguir garantir mais de 150 mandatos, será o melhor resultado desde 1991, quando abraçou a agenda de reformas de mercado e a Índia se abriu ao mundo. Singh e Cia. conseguem estancar a erosão do mais antigo partido indiano.

E chegará a coligação pré-eleitoral da UPA à maioria absoluta (272)? Está a menos de 20 mandatos de o garantir, o que é uma ninharia num parlamento em que abundam pequenos partidos regionais e deputados independentes prontos para apoiarem a coligação em troca de uma ou outra contrapartida local/regional ou umas malinhas de Rupias.

Parece que afinal não vamos assistir a longas e complexas negociações pós-eleitorais. A única questão agora é se Rahul Gandhi assume ou não uma pasta ministerial importante. Tudo aponta para que a UPA mantenha a sua estratégia - Singh, o burocarata, como PM, e Sonia Gandhi a tratar das pastas mais políticas nos bastidores. Over and out.

Derrota nuclear

Onde está a Esquerda? Desceu de mais de 50 para cerca de 20 mandatos. Está a pagar um preço alto pela sua retirada precipitada da coligação governamental UPA, em 2008, por ocasião da assinatura do acordo de cooperação nuclear com os Estados Unidos. Mas também pela sua política esquizofrénica em relação às reformas económicas - com uma retória violentamente contra e uma prática muitas vezes abertamente favorável.

O Senhor Karat e Cia. vão ter que rever a sua estratégia, começendo pelo abc... ou 123?

Em vídeo

Acompanhe as eleições da maior democracia do mundo, em directo, com cores e em vídeo aqui, na CNN-IBN.

Atribuir vitórias

Atribuir e reivindicar pessoalmente vitórias é um dos past-times favoritos dos políticos indianos. O Congresso pode vir a ganhar com maioria absoluta, mas atribuir a vitória a Rahul Gandhi (ainda por cima por uma agência noticiosa governamental) é como atribuir a culpa pelo mau tempo ao preço do pão. Não há causalidade nem correlação.

O Congresso melhorou significativamente o seu desempenho no Utar Pradexe, mas foi principalmente pelo fraco desempenho do BSP de Mayawati, e não por mérito próprio ou do herdeiro dinástico.

Portugal dorme

Estive esta manhã no Rádio Clube Português a comentar sobre... a visita presidencial à Turquia. Depois lembraram-se ainda de gravar um comentário sobre a Índia. A comunicação social portuguesa, tal como Portugal inteiro, ainda dorme. Segunda-feira, ao acordar, lembrar-se-ão de incluir uma ou outra nota sobre a "longínqua e exótica" Índia.

Update, 12:33: não podia ser mais simbólico - anunciam-se os resultados da maior democracia indiana e forma-se um novo governo em Nova Deli, uma das quatro capitais mais importantes do século XXI mas, enquanto isso, a TSF passa um programa sobre a Goa quinhentista e a expansão portuguesa na Índia.

Sardinha ganha Goa

O Sr. Cosme Francisco Caitano Sardinha (Congresso) é indicado no site oficial como o primeiro vencedor dos 542 mandatos em jogo. Venceu um dos dois círculos (Sul de Goa) com que Goa é representada no Parlamento nacional. O seu rival Churchill Braz Alemão, embora não tenha sido candidato, é o grande derrotado.

É caso para dizer que Sardinha vai para Deli e Alemão fica em Goa.

Hold your horses

Atenção à diferença entre WIN (vitória oficial declarada) e LEAD (liderança com resultados parciais). Poderá haver ainda muitas reviravoltas. E cuidado à diferença UPA / Congresso. O Congresso não ganhou 255 mandatos até agora. Nem a sua coligação UPA. Simplesmente, a UPA lidera em 255 círculos, tendo o Congresso ganho 76 mandatos.

Results expected anytime

Mesmo com o voto integralmente electrónico, a Índia consegue demorar mais tempo a contá-los e anunciar resultados do que o nosso arcaico sistema em papel.

Singh is King again?

Tudo possível... mas afigura-se uma avalanche INC

Na Índia tudo é possível e o contrário também, gostam dizer os indianos aos estrangeiros. Parece que hoje tiveram razão novamente. Os primeiros resultados apontam para uma vantagem impressionante da UPA, isto é, a coligação governmantal do Congresso e seus aliados actualmente no poder.

As agências internacionais anunciam já uma vitória esmagadora, com mais de 250 lugares (muito perto da maioria absoluta de 271) para a UPA. Fala-se de Singh poder voltar a ser PM. Declara-se "derrota histórica" da oposição dos nacionalistas do BJP. Mas eu já vi muita coisa a acontecer na Índia, incluindo aquela surpresa de 2004 (cantava-se vitória do BJP, anunciava-se depois Sonia Gandhi como PM, e nada disso aconteceu).

Mesmo assim, tendo em conta o bom resultado provisório no Rajastão, eo facto de até Shashi Tharoor ter sido eleito em Trivandrum, aponta para um excelente resultado do Congresso.

Acompanhe os resultados oficiais aqui.

15.5.09

A voz da memória

A BBC tem três gerações de indianos a olhar para o seu país. Vale a pena ouvir a voz da memória de Jasjit Singh.

14.5.09

Exit-polls e afins

Finalizada a última fase das eleições, e aguardando-se os resultados neste Sábado, levantou-se o embargo imposto pelo Supremo à publicação das sondagens. Foram publicadas as várias exit polls, todas dando número simpáticos tanto para o INC (com uma ligeira vantagem) como o BJP (perto dos 200 deputados cada um).

Estas sondagens sugerem que ambos os partidos serão assim capazes de evitar a crescente fragmentação partidária e negociações de coligação governamental complexas. Ao contrário do que argumentei ontem no Público, num texto da autoria da Francisca Gorjão Henriques:
Congresso e BJP "são partidos com liderança fraca, fragmentados ideologicamente, que sofrem pressões externas [da esquerda, no caso do Congresso, e dos nacionalistas no BJP] e estão ambos em erosão acelerada", resume Constantino Xavier. A formação de partidos regionais, de castas ou linguísticos (há 22 línguas oficiais na Índia) está a aproveitar-se do declínio dos dois partidos nacionais. E de certa forma a sua existência é mais representativa da diversidade indiana. Mas tornam difícil prever o desfecho destas eleições. Fortalecidos nas urnas, terão de ser tidos em conta na hora de formar governo.
Mas vamos ao fundamental e mais uma vez convém colocar a Índia em perspectiva: se no nosso Portugalzinho de 10 milhões estas sondagens têm margens de erro consideráveis e falham mais do que acertam, imaginem na Índiazona de 1140 milhões.

Factos

25% of the 543 lower house elected MPs [Members of Parliament] had criminal cases pending against them in 2004. More than half of the cases were for serious offences including murder, rape and large-scale corruption.

Voto em branco / None of the above

Reflecte bem a forma arrogante com que as elites burocráticas indianas impõem a "sua" democracia às "massas selvagens": o voto em branco não existe nas eleições indianas. Nos aparelhos de voto electrónicos não existe botão para tal, pura e simplesmente. Aos eleitores indianos insatisfeitos com os candidatos (e não são poucos) resta a alternativa da abstenção, ou um processo complexo, moroso e público (requer um pedido formal à mesa de voto, preenchendo-se depois um requerimento) para um "no vote".

O interessante é que esta questão tem sido debatida de forma apaixonada por eleitores mais novos, que se procuram organizar para incluir uma opção equivalente ao voto em branco, mas com uma mensagem política explícita: "none of the above". Há mesmo um grupo no Facebook e uma petição:
In a great democracy, respect must be given to the opinion of each and every voter, and give due consideration to their thinking & feelings. Thus we the people of India demand a provision in the Electronic Voting machine, to cast a vote as "NO VOTE" i.e. "I(voter) would not like to vote for any of the above contestants."
É um debate interessante que espelha bem o descontentamento dos novos eleitores indianos, sendo que só nestas eleições 43 milhões votam pela primeira vez num país em que 60% das pessoas tem menos de 25 anos de idade.

Ram Sethu

Votou ontem o Tamil Nadu, na quinta e última fase. É um dos estados que mais deputados envia à Lok Sabha, a Câmara Baixa do parlamento indiano.

Ram Sethu é o nome dado à ponte mitológica que, segundo muitos hindus e várias organizações nacionalistas hindu próximas do BJP, foi construída pelo deus Rama com a ajuda do seu exército de macacos liderado por Hanuman. O facto de esta suposta ponte (nada mais do que um istmo rochoso) se encontrar agora ameaçada pela construção de um canal de navegação marítima tornou-se num dos debates políticos mais importantes na Índia, motivando inúmeras manifestações e protestos.

Construído por macacos ou não, a realidade é que a avaliar pela importância que a questão da guerra no Sri Lanka teve na campanha no Tamil Nadu, o Sul da Índia e o antigo Ceilão aparentam estar, de facto, unidos.

13.5.09

Mais próximo do fim

O titânico exercício democrático na Índia chegou hoje ao fim. Resta esperar pelos resultados, a serem anunciados dia 16. Uma sondagem da C-Voter publicada hoje prevê que a aliança chefiada pelo Congresso liderará novamente o país, mas sem conforto, elegendo entre 183 e 195 dos 543 assentos. Ou seja, os indianos deverão ter de contar com uma coligação frágil, tal como muitos analistas têm vindo a prognosticar. Isto, claro, se não houver supresas, como a de 2004, quando o Congresso desafiou as previsões e voltou ao poder.

War of the Websites

O Indian Express explora a campanha cibernética, comparando novas estratégias electrónicas do Congresso e BJP. O BJP foi o primeiro partido a iniciar a digitalização da campanha, em 1999, com o falecido Pramod Mahajan. Embora este tipo de campanha tenha crescente importância para cativar os novos eleitorados jovens, formados e urbanos, não deixa de ser marginal. Compreende-se assim também o relativo desinteresse do Congresso, mais concentrado em ganhar o voto dos que nem ligação à rede pública de água e electricidade têm. Excertos:

Congresso
With an extremely limited budget, we created an information-heavy, easily navigable site with light pages enabling quick loading and a very simple interface. Our studies had revealed that connectivity is still very slow in much of India and this kind of site would do better than a bells-and-whistles heavy site. ... In 2009 the BJP campaign seems to be Advani and the BJP Shining while the Congress campaign is for Aam Aadmi Ke Badhte Kadam. This is exactly replicated in the websites. Website do INC: http://www.aicc.org.in/new/

BJP
The Bharatiya Janata Party (BJP) takes great pride in the fact that way back in 1996 it became the first Indian political party to have its own website: www.bjp.org. In 2008, L.K. Advani became the first prime ministerial candidate to have his own personal website: www.lkadvani.in. Compare this with the fact that the Congress website was launched eight years later in 2004, and the fact that the top 3 Congress leaders do not have their personal websites, and you can clearly see why there is a generational gap in the appreciation of technology between the BJP and the Congress.

Os efeitos da fragmentação

O que é nacional é bom

Queixamo-nos muitas vezes em Portugal de que a política externa não é um factor preponderante nas campanhas e nos programas eleitorais dos partidos. Na Índia, essa negligência é ainda mais gritante: exceptuando algumas banalidades do BJP, INC e Comunistas, não há partido que apresenta uma agenda externa consolidada para o país. O enfoque é exlcusivamente doméstico, principalmente regional e local. No meio de tanta "matéria política", política externa é um non-issue nas eleições indianas, mesmo em "tempos interessantes" como os actuais. Este artigo do Economist regista este desinteresse eleitoral como alguma surpresa despropositada:
Despite the global economic crisis, a major foreign-policy shift towards the US, the Mumbai terrorist attacks and deteriorating relations with Pakistan, none of these issues has gained election prominence. As a result, political parties have focused their campaign efforts on highlighting their achievements in promoting local economic development.

12.5.09

Factos

1.1 million electronic voting machines are being used across the nation. In 1996, before the introduction of electronic voting machine, 8,000 metric tonnes of paper were used to print ballots

Votar, faça chuva ou sol

Shimla, May 10 (IANS): They have to trudge miles of rugged, cold and inhospitable Himalayan terrain before they cast their vote, sometimes spending a chilly night at the polling station. Yet voters in the tribal belt of Kinnaur in Himachal Pradesh have done so year after year with gusto.

É das minhas regiões preferidas na Índia: o distrito de Kinnaur, no estado de Himachal Pradexe (como o nome indica, nos Himalaias) nem é dos mais isolados na Índia, o vale sendo percorrido pela antiga Hindustan-Tibet Road, hoje uma pista poeirenta percorrida por colunas do Exército indiano, autocarros e motas Enfield de alguns aventureiros turistas. Mas esta reportagem da agência indiana IANS indica bem as dificuldades e os riscos que os eleitores de Kinnaur (maioritariamente hindus e/ou tribais) enfrentam para poderem exercer o seu direito de voto. Faça chuva ou faça sol, votar na Índia ainda é visto como um real privilégio.

Terceira Frente

Os rivais Modi (BJP) e Sibal (INC) de acordo com pelo menos uma coisa.

11.5.09

Factos

More than 800,000 polling stations have been set up for a five-phased vote over several weeks, watched over by 2.1 million security personnel

Grass-roots para inglês ler

The proliferation of independent candidates and dozens of new parties represents a grass-roots movement in which bankers, business leaders, socialites, artists and others sense increasing political opportunity in a country where power has often been wielded by dynasties.
Esta reportagem do Washington Post confunde algo fundamental. O "grass-roots movement" a que se refere na política indiana não é nada novo. É o já muito estudado democratic upsurge a que se assiste nos últimos anos, especialmente no Norte da Índia, com a mobilização dos intocáveis (ou dálitas) e outros grupos tradicionalmente desfavorecidos. O BSP de Mayawati é o caso mais conhecido.

Esta Mona Shah, no entanto, que surge como um exemplo neste artigo, é uma cirurgiã de classe média, se não alta, totalmente ocidentalizada, que não tem hipótese nenhuma de ganhar mais do que um punhado de votos naquele bairro em que faz campanha. O vídeo associado ao artigo é simbólico: ela fala em hindi, num bairro qualquer, mas ninguém lhe liga - estas pessoas já sabem em quem votam, ou seja, nos magnatas locais.

Depois, já em inglês e em frente à câmara ocidental, exprime-se com uma fluência e um à-vontade impressionante - articulando um discurso que pode ser interessante para correspondente e leitor norte-americano, mas totalmente desapropriado e desinteressante para nove em dez eleitores indianos. Talvez em Leicester, no Reino Unido, faria sentido, mas na Índia é um discurso marginal.

O que a jornalista do Washington Post procurou explorar é o novo activismo e interesse político das novas gerações de indianos. Mas o político está longe de ser sinónimo de partidário ou eleitoral e, por isso, a nova forma de pensar e fazer política na Índia está ainda longe de se traduzir em impacto partidário - veja-se os programas eleitorais e discursos dos principais partidos, por exemplo.

O futuro pertence à Índia

Na rivalidade sino-indiana, há quem preveja que "O futuro pertence à Índia". A democracia é o preço a pagar para o crescimento "à indiana".

10.5.09

Arquitectura eleitoral

Numa democracia em que cada círculo tem uma média de dois milhões de eleitores, num sistema uninominal ("first-past-the-post"), a questão da delimitação dos círculos é de uma importância vital. Há partidos que conseguem percentagens de voto acima dos 20% em certos estados sem, no entanto, elegerem um único deputado. É por isso que tem havido apelos frequentes para a reforma do sistema eleitoral, para um maioritário ou misto.

Durante 30 anos, entre 1971 e 2001, o processo de actualização do sistema foi congelado, de forma a privilegiar o Sul do país (com taxas de natalidade inferiores e, por isso, em risco de ver o seu peso eleitoral reduzido). Sobre esta temática fascinante, ver este artigo, ou este Q&A. Para uma perspectiva geral, ler Does India need a different electoral system?. Este guia geral do semanário India Today também se recomenda.

Destinos diferentes: políticos e eleitores

Novos tempos, mesmas vozes

Rahul já galgou 87,000 quilómetros e 110 comícios. Tem menos de 40 anos. Singh e Advani, os principais candidatos ao posto de PM, têm à volta dos 80 anos. Mesmo assim, continuamos sem ouvir uma única ideia interessante de Rahul Gandhi. Não é só ele. É todo a estrutura partidária do partido do Congresso, com mais de um século, que não está a acompanhar os tempos.
Watching Rahul Gandhi’s speeches gives you a couple of clues. There is a constant refrain on the theme “hamne apke liye yeh kiya...”, almost like a throwback to the ’70s. It fundamentally misunderstands how India has transformed. Voters, including the poorest of the poor, find this kind of language patronising. The real revolution that has come about because of the social churning over the last two decades is that voters are looking for instruments of empowerment, not palliative handouts from the state. The Congress still has not found a language to articulate this.

9.5.09

Quando Bollywood vai a votos


(Texto publicado hoje no Público)
Os actores de cinema indianos não são apenas
semideuses. Tornaram-se máquinas de atrair votos.
Os políticos usam-nos. E eles usam a política. Sempre que, como agora, há eleições legislativas, o mundo do glamour mistura-se com os partidos


Diz um ditado antigo indiano: "Quem não sabe nada de música, literatura ou arte é igual a uma besta, mas sem a cauda nem os dentes." Num país habituado a adorar milhões de deuses, os artistas, em particular os actores de cinema, são também divindades. E são cada vez mais usados, não para conseguir milagres, mas para captar votos.
Chiranjeevi desafiou o destino uma vez: vem de uma casta baixa, a kapu, e conseguiu ainda assim tornar-se num dos actores mais célebres de Tollywood, a indústria cinematográfica do Andhra Pradesh, falada em telugu. Por alguma razão é chamado simplesmente Megastar (e também O Imortal). Aos 53 anos, e ao fim de 149 filmes, quer uma nova ruptura: refazer a estrutura de poder no país, gerida há décadas pelos mesmos partidos e pelas mesmas famílias.
Decidiu criar o seu próprio partido em Agosto do ano passado, o Partido Praja Rajyam (que se diz socialista), e ao primeiro comício conseguiu reunir nada mais nada menos que um milhão de pessoas. Chiranjeevi quer ter agora votos suficientes para jogar numa coligação. "O Governo é autocentrado. Não tem amor nem afecto pelo povo. Eu tenho sempre os pobres em mente", afirmou. E soltou uma frase batida: "Podemos trazer mudanças."
Muitos dos seus seguidores esperam que ele lide com as adversidades da mesma forma que lida com os rivais nos seus filmes: derrubando impiedosamente todos os obstáculos para defender os mais desfavorecidos. "Chiranjeevi cria confiança nas pessoas", explicou à agência Jyoti Prasad um estudante de 22 anos. "Posso fazer o bem, é o que ele me faz pensar."
Imagens da BBC mostram-no em cima de um autocarro a dizer adeus a milhares de pessoas que se juntaram para o ver passar e que lhe lançam pétalas de flores amarelas e gritos histéricos de alegria. Chiranjeevi diz ao jornalista que quer diminuir o fosso entre ricos e pobres que cresce no país, e que é gritante no Andhra Pradesh, onde o centro tecnológico da Índia, Bangalore, está a um par de horas de distância da pobreza rural mais extrema.
A mensagem não é nova, ressalva o repórter, "mas agora há um novo herói em quem acreditar, alguém que já idolatravam antes".

O exemplo de Bachchan
"Os artistas e os actores desempenham um papel enorme na sociedade indiana", afirma ao P2 por e-mail o comentador político Suvrokamal Dutta. "São um modelo... num país onde a cultura e a arte ajudaram a moldar a sociedade."
Quando se entra no blogue de Amitabh Bachchan, uma das maiores celebridades de sempre do cinema indiano, aparece citada esta frase: "Ontem eu era esperto, por isso queria mudar o mundo. Hoje sou sensato, por isso mudo-me a mim próprio." Não sabemos o que ela terá de autobiográfico, mas sabemos que a sua actividade partidária a tempo inteiro pertence ao passado; a lenda de Bollywood não chegou a tornar-se um monstro político.
Mas a sua estreia foi triunfante. Nas primeiras legislativas a que concorreu, em 1984, Amitabh Bachchan conseguiu 68,2 por cento dos votos, derrubando de um só golpe o veterano e rival na corrida para o Parlamento Hemvati Nandan, antigo ministro chefe do Uttar Pradesh. Bachchan candidatou-se pela sua cidade natal, Allahbad, e ganhou o lugar de deputado, para se juntar ao seu amigo Rajiv Gandhi (filho de Indira Gandhi), que nesse ano se tornou primeiro-ministro.
A vida na Lok Sabha (câmara baixa do Parlamento) durou pouco. Ao fim de três anos e de acusações da sua implicação no escândalo de corrupção Bofors, que envolveu Rajiv Gandhi, o actor decidiu regressar aos ecrãs.
A sua passagem pela política deixava, no entanto, uma mensagem forte: as estrelas de cinema são potentes caçadoras de votos. E a partir daí todos os partidos tentam ter as suas durante as campanhas, quer a fazer comícios para arrastar multidões, quer a concorrer para conquistar um lugar no poder.
"Actualmente, os actores e os artistas são muito requisitados por todos os partidos políticos da Índia para dar colorido e grandiosidade aos seus comícios, uma vez que os actores têm um enorme valor de mercado entre os fãs", diz Suvrokamal Dutta. Isso, em contraste com a imagem que os eleitores têm de quem ocupa o poder: "A generalidade dos indianos estão muito desencantados com a política e com os políticos devido ao fraco desempenho e ao alto nível de corrupção na classe."

Ficar ao lado do povo
Conhecido como Shotgun, Shatrughan Sinha é também considerado o actor-político mais bem sucedido do país. Foi a primeira estrela de Bollywood a tornar-se ministro no Governo central (Saúde e Navegação). Ainda faz campanha para o Bharatiya Janata Party (BJP, partido nacionalista hindu), ao qual se juntou na década de 1980, quando tinha apenas dois deputados no Parlamento. Em 1998, o BJP estaria já a governar; e mesmo com a passagem para a oposição, Sinha não abandonou as suas fileiras, e desde há três anos dirige o Departamento de Artes e Cultura.
Sinha é crítico quanto à vantagem de um partido falar através de uma celebridade. "Os partidos acham que as estrelas trazem uma grande multidão, mas essas multidões não são sérias. Dão uma boa fotografia, mas não se traduzem em votos", cita o jornal britânico Sunday Times.
Apesar disso, as estrelas de cinema podem ainda desempenhar um papel importante na vida pública da Índia. Mas a fama tem de ser retribuída com medidas concretas. "Os actores... se querem ficar na política durante muito tempo, têm de fazer um bom trabalho e ficar ao lado do povo", disse ao jornal paquistanês Dawn.
A observação tem particular razão de ser. Suvrokamal Dutta diz que cada vez que há eleições legislativas - como é o caso destas que de 16 de Abril a 13 de Maio decorrem em cinco rondas no país -, o mundo do glamour mistura-se com os partidos. "[Mas] o registo de participação é patético até à náusea; não acho que seja uma mais-valia a longo prazo."
Num artigo escrito recentemente para o canal noticioso Saharasamay, Dutta apresenta vários exemplos de má performance, como o do actor Govinda, que em 2004 se candidatou pelo Congresso, venceu e durante toda a legislatura apenas fez uma interpelação no Parlamento; a sua assiduidade é "negligente". Este ano preparava-se para concorrer novamente, mas desistiu a meio da campanha.
"As únicas celebridades de Bollywood que estiveram bem na política foram o veterano Sunil Dutt do Congresso e Shatrughan Sinha do BJP. Mostraram pela política a mesma paixão que mostram nos seus filmes. Os outros são apenas peças de decoração."
Os políticos ganham votos com as estrelas. E as estrelas o que ganham com os políticos? No site oficial das eleições indianas (indian-elections.com) avança-se com uma possível resposta, num artigo intitulado Celebridades na política: um passo para a degeneração da política?. "Podem receber publicidade, poder e possivelmente benefícios nos impostos sobre os rendimentos, se o lado escolhido tiver sorte nas eleições." Também pode dar dinheiro. "Tem sido noticiado que algumas estrelas recebem cachets altíssimos pela sua comparência nos comícios."

A dança dos votos
As estrelas não vêm apenas do cinema. Vêm também do críquete, o desporto-rei na Índia. É o caso de Dalip Vensarkar, conhecido como Coronel; um mítico membro da equipa que em 1983 venceu o campeonato mundial. Está na reforma e nesta campanha dá a cara pelo Shiv Sena, de extrema-direita.
Este ano, há também um novo fenómeno, saído da dança. Mallika Sarabhai é uma bailarina clássica, conhecida internacionalmente. Desde 1984 que o Congresso lhe pede que se aliste no partido. Sempre recusou, mas agora decidiu concorrer ao Parlamento como independente pelo círculo de Gandhinagar (Gujarat). "Nunca pensei em concorrer como independente a umas eleições, porque sei que os candidatos independentes têm muito poucas hipóteses no nosso sistema político", contou à BBC. "Mas a minha voz interior disse-me que chegou a hora."
Para ser eleita terá de rivalizar nada mais nada menos do que com o líder do BJP, Lal Krishna Advani, candidato a primeiro-ministro. Terá também de esquecer o que Advani significa em gujarati: "não tocar". Muitos têm chamado a este duelo a versão indiana de David contra Golias.
Sarabhai, que se tornou na independente mais famosa do escrutínio e que está habituada a activismo político, aposta no contacto com a população. "Os outros candidatos acenam e vão-se embora. A nossa democracia só tem espaço para líderes, não para pessoas como vocês e eu", disse num comício. "Vim aqui como uma de vocês, como uma irmã."
Num estado com fortes tensões religiosas como o Gujarat, onde em 2002 mais de mil pessoas morreram em confrontos entre hindus e muçulmanos (espoletados com a ajuda do BJP), Sarabhai põe em destaque uma Índia secular e inclusiva.
"O silêncio da classe média da cidade face à violência tem sido espantoso. Ela está a tentar quebrar esse silêncio dando uma alternativa credível", afirmou ao Washington Post Shiv Viswanathan, cientista político do Dhirubhai Ambani Institute of Information and Communication Technology de Gandhinagar. "A sua luta tem muito simbolismo nesta cidade fracturada pela violência." Prefere substituir as referências a castas, religião e etnicidade linguística pela necessidade de afastar os políticos corruptos e ineficazes, avança o mesmo diário.
O BJP diz que ela não chega a poder ser considerada uma rival, classificando-a como "irrelevante" politicamente. "Os meus opositores dizem que eu devia voltar para a dança", comenta Sarabhai. E em jeito de resposta: "Durante demasiado tempo deixámos que os nossos políticos se deixassem levar pela corrupção e pelos que atiçam paixões religiosas."
Também há actores que se envolvem exclusivamente para convencer os indianos a irem às urnas. É o caso do actor-produtor Aamir Khan, que tem feito filmes a apelar à participação dos 714 milhões de eleitores indianos inscritos para votar. "Votem pela integridade, votem em pessoas boas", aconselha. "Os atentados terroristas de Bombaim a 26/11 [26 de Novembro] mudaram a Índia", disse numa entrevista ao Hindustan Times. "As pessoas ficaram mais sensibilizadas e esperam mais dos políticos. Por isso, acho necessário que escolham o tipo de candidato certo."
Aamir Khan garante que não está a dar voz "a nenhum partido em particular, ou a uma ideologia". "Só quero que as pessoas escolham bem." Da lista devem excluir, por exemplo, os que estão a responder a acusações criminais, diz. E não são poucos: quase um quinto dos 5500 candidatos.
Francisca Gorjão Henriques

8.5.09

Nano Casa

 Depois do Nano carro, vem a Nano casa, da Tata, claro está. Apenas 7800 dólares. "We have realized that there is an opportunity at the bottom of the pyramid", explicam na Time. Mas só agora é que deram por isso? Parece um bom negócio em qualquer parte do mundo.

Perdidos e achados


Há livros que são um achado. O "Maximum City: Bombay Lost and Found", do Suketu Mehta, foi um deles. É o submundo de Bombaim, a violência religiosa, o abuso policial, mas também o homem que puxa pela primeira vez um autoclismo numa casa-de-banho. Hoje, a Alexandra Lucas Coelho publica uma entrevista ao autor no P2. Um excerto:
Dois dias depois dos ataques bombistas a Bombaim, em Novembro, publicou um texto no New York Times a dizer: ok, estou a marcar voos, vou beber uma cerveja ao Leopold, vou ao Taj Hotel, vou ver um filme ao Metro [alguns dos lugares atacados]. Foi mesmo?
Estava a ponto de me meter num avião e ir, mas depois tive uma urgência pessoal para tratar. Vou em Julho. 
O que estava a dizer às pessoas era: por favor vão a Bombaim, essa é a forma de lidar com o que aconteceu.
Os ataques terroristas acontecem em grandes cidades, Londres, Madrid, Nova Iorque, Bombaim. Os atacantes de Bombaim vieram do Paquistão. Estou a ler transcrições dos interrogatórios e jornais paquistaneses que foram a casa destes jovens terroristas. Eles vieram de aldeias do Punjab e foram endoutrinados para agir. Basicamente estavam a atacar a própria ideia de Bombaim - aberta, multicultural, tolerante, uma metrópole moderna, de fazedores de dinheiro. Tudo aquilo que eles odeiam. 
Então, o meu ponto era: a forma de mostrar solidariedade não é bombardear o Paquistão, mas ir a Bombaim e vivermos a nossa vida. Porque o que eles querem é impedir-nos de fazer dinheiro, de dançar, de ver filmes, tudo o que alguém faz numa cidade. Mas o que aconteceu foi que Bombaim não deixou de trabalhar. Dois dias depois as pessoas recomeçaram a trabalhar. 
Outra coisa que eles queriam era que hindus e muçulmanos se matassem uns aos outros. Queriam começar uma guerra civil. E isso não aconteceu. Os líderes muçulmanos de Bombaim recusaram-se a enterrar os corpos dos terroristas, dizendo que não os reconheciam como muçulmanos, porque tinham morto mulheres e crianças, inocentes. 
Uma guerra civil não está portanto mais perto?
Não, não. Está muito longe. O que aconteceu depois dos ataques foi muito bonito. Agora há conflito com os migrantes, especialmente entre pessoas vindas do Norte da Índia e os maratas [naturais do estado de Maharashtra, cuja capital é Bombaim].
Em Maximum City escreve sobre os extremistas muçulmanos e hindus, e há uma tensão presente em todo o livro. As coisas ficaram mais calmas?
Na frente religiosa, sim. Os políticos precisam sempre de agitar um problema para conseguirem votos. Costumava ser: hindus versus muçulmanos. Isso já não acontece. As pessoas de Bombaim viram, com os ataques, que há uma identidade mais ampla, para além de hindu ou muçulmano. Mas ainda há políticos, como os do Shiv Sena [extremistas hindus, defensores de privilégios para os maratas] que precisam de lutar contra um inimigo. Hoje o inimigo são aqueles a quem chamam biharis, aqueles que vêm de estados pobres como o Bihar [junto ao Nepal]. 

7.5.09

Quando os deuses descem à terra

Há aldeias indianas que não vêem veículos motorizados durante meses. Vivem como que estagnadas na Idade Média, sem água, sem electricidade. E depois, de cinco em cinco anos ele chega das alturas, o gigantesco e brilhante pássaro, para distribuir um imenso barulho, uma brisa refrescante e muitos sorrisos. O helicóptero, o símbolo do poder político indiano.

India just has 60 odd choppers up for grabs, and they are all booked. Political parties are paying between Rs 40,000 to Rs 1.4 lakh for a single hour (ca. 800 a 2800 Euros).

Fase 4 - O factor Diskhit

In the fourth and penultimate phase of the 2009 Lok Sabha election, considered crucial for the ruling Congress party-led United Progressive Alliance coalition, an estimated 57% of electors turned up to vote in 85 constituencies across seven states and the national capital territory of Delhi.

E realizou-se hoje mais uma das cinco fases que marcam estas eleições, incluindo Nova Deli que não deverá fugir ao controle do Congresso, muito devido ao trabalho notável da Chief-Minister Sheila Diksht. Não há dúvida de que a capital indiana continua a sofrer de diversos problemas, incluindo um planeamento caótico, criminalidade em crescimento exponencial, problemas rodoviários e índices de poluição inéditos.

Mas é, ao mesmo tempo, das figuras políticas em que não só os delienses, mas também os indianos em geral, mais confiam. Os Commonwealth Games que se aviznham em 2011, bem como o Metro de Deli, o orgulho dos dilliwallahs (como são conhecidos os habitantes da capital), são as suas imagens de marca.

Não é propriamente jovem, e dada a sua população reduzida, Nova Deli não é um estado de peso no xadez político indiano, mas Dikshit tem tem ainda um futuro político considerável pela frente. Se tivesse menos dez ou quinze anos de idade, seria uma possível "prime-ministerial candidate".

1.5.09

357 milhões

According to the election commission, the voting percentage recorded till evening remained in Uttar Pradesh (45 %), Bihar (48 %), Madhya Pradesh (44 to 45 %), Karnataka (57%), Maharashtra (43 to 45 %), Gujarat (49 to 50 %), Jammu and Kashmir (30 %), West Bengal (for first phase 64%) Sikkim (till last reports 60 %).
Fala-se muito da "maior democracia do mundo", sua impressionante participação eleitoral, da mobilização política de novos grupos sociais, do democratic upsurge, das novas gerações de eleitores (1 milhão de novos votantes nestas eleições) etc., etc. Tudo verdade e muito interessante.

Mas cá estão indicadores de que a democracia indiana sofre dos mesmos flagelos que afectam as democracias europeias, embora por razões diversas. A terceira fase das eleições (e são nacionais, não umas europeias ou um referendo qualquer num dia de praia em Junho...) registou menos de 50% de participação eleitoral.

Nas eleições de 2004 a abstenção ultrapassou os 40%. Com os resultados desta terceira fase (em que se incluem alguns dos maiores estados indianos), é possível que este valor se aproxime desta vez dos 50%. Isto é, em cada dois indianos com capacidade de voto, só um exerce esse direito. Nesse sentido, talvez este blogue se devesse chamar "357 milhões".

The middle finger

A Índia tem destas coisas em que a sofisticação pós-moderna coabita com a tradição medieval: Vota-se integralmente de forma electrónica, num dos sistemas mais avançados do mundo, mas para evitar fraudes e eleitores duplos, o dedo de cada votante é marcado com uma tinta permanente (ou quase - aguenta umas boas semanas). Tal como na imagem de topo deste blogue.

Por norma, a marca era no dedo indicador. Mas parece agora que, para se armarem em engraçados, alguns começaram a pedir que fosse no dedo do meio. Como no caso destas estrelas de Bollywood, incluindo o semi-divino ícone Amitabh Bachchan (ao meio):

1 de Maio



Estranhamente, na Índia o Dia do Trabalhador não é feriado. Trabalha-se como em qualquer outro dia, um dia após a terceira fase das eleições nacionais.

30.4.09

Ainda sobre os Gandhi

Escrevi este artigo sobre os Gandhi, que saiu hoje no Público.

A terceira fase

Decorreu hoje a terceira fase das eleições. Aparentemente, e apesar da anunciada mobilização em Bombaim devido aos ataques terroristas, o centro económico da Índia votou pouco. A ronda de hoje era considerada decisiva para o Congresso e o BJP. Se foi ou não saber-se-á a 16 de Maio.