8.5.09

Perdidos e achados


Há livros que são um achado. O "Maximum City: Bombay Lost and Found", do Suketu Mehta, foi um deles. É o submundo de Bombaim, a violência religiosa, o abuso policial, mas também o homem que puxa pela primeira vez um autoclismo numa casa-de-banho. Hoje, a Alexandra Lucas Coelho publica uma entrevista ao autor no P2. Um excerto:
Dois dias depois dos ataques bombistas a Bombaim, em Novembro, publicou um texto no New York Times a dizer: ok, estou a marcar voos, vou beber uma cerveja ao Leopold, vou ao Taj Hotel, vou ver um filme ao Metro [alguns dos lugares atacados]. Foi mesmo?
Estava a ponto de me meter num avião e ir, mas depois tive uma urgência pessoal para tratar. Vou em Julho. 
O que estava a dizer às pessoas era: por favor vão a Bombaim, essa é a forma de lidar com o que aconteceu.
Os ataques terroristas acontecem em grandes cidades, Londres, Madrid, Nova Iorque, Bombaim. Os atacantes de Bombaim vieram do Paquistão. Estou a ler transcrições dos interrogatórios e jornais paquistaneses que foram a casa destes jovens terroristas. Eles vieram de aldeias do Punjab e foram endoutrinados para agir. Basicamente estavam a atacar a própria ideia de Bombaim - aberta, multicultural, tolerante, uma metrópole moderna, de fazedores de dinheiro. Tudo aquilo que eles odeiam. 
Então, o meu ponto era: a forma de mostrar solidariedade não é bombardear o Paquistão, mas ir a Bombaim e vivermos a nossa vida. Porque o que eles querem é impedir-nos de fazer dinheiro, de dançar, de ver filmes, tudo o que alguém faz numa cidade. Mas o que aconteceu foi que Bombaim não deixou de trabalhar. Dois dias depois as pessoas recomeçaram a trabalhar. 
Outra coisa que eles queriam era que hindus e muçulmanos se matassem uns aos outros. Queriam começar uma guerra civil. E isso não aconteceu. Os líderes muçulmanos de Bombaim recusaram-se a enterrar os corpos dos terroristas, dizendo que não os reconheciam como muçulmanos, porque tinham morto mulheres e crianças, inocentes. 
Uma guerra civil não está portanto mais perto?
Não, não. Está muito longe. O que aconteceu depois dos ataques foi muito bonito. Agora há conflito com os migrantes, especialmente entre pessoas vindas do Norte da Índia e os maratas [naturais do estado de Maharashtra, cuja capital é Bombaim].
Em Maximum City escreve sobre os extremistas muçulmanos e hindus, e há uma tensão presente em todo o livro. As coisas ficaram mais calmas?
Na frente religiosa, sim. Os políticos precisam sempre de agitar um problema para conseguirem votos. Costumava ser: hindus versus muçulmanos. Isso já não acontece. As pessoas de Bombaim viram, com os ataques, que há uma identidade mais ampla, para além de hindu ou muçulmano. Mas ainda há políticos, como os do Shiv Sena [extremistas hindus, defensores de privilégios para os maratas] que precisam de lutar contra um inimigo. Hoje o inimigo são aqueles a quem chamam biharis, aqueles que vêm de estados pobres como o Bihar [junto ao Nepal]. 

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