25.4.09

Em cartoon


Mulayam Singh, neste cartoon de 1999, o líder do Samajwadi Parti (SP), que tem a bicicleta por símbolo eleitoral. Guarda aqui o "Muslim Vote Bank", aludindo assim ao seu eleitorado predominantemente OBC (castas baixas) muçulmano, no Utar Pradexe, em rivalidade constante com o Bahujan Samaj Party (BSP), o partido de Mayawati e dos intocáveis dálitas que está actualmente no poder naquele estado.

Neste cartoon de 1999 é ainda o Congresso (INC) que lhe rouba os votos. Hoje o SP é... um aliado do INC, tendo o seu apoio sido fundamental para salvar o governo UPA de Manmohan Singh em Julho de 2008, compensando a retirada dos comunistas após o acordo nuclear com os EUA.

Rahul e a nova geração

I do not think I have the experience to be the Prime Minister of the country right now (aqui)
Rahul Gandhi tem ainda muitos anos pela frente. O PM actual tem 76 anos. O líder da oposição 81. Em termos políticos indianos, mesmo tendo em conta o factor dinástico Nehru-Gandhi, é ainda um adolescente. O seu discurso político errático não ajuda - não foi até hoje capaz de lançar nem o esboço de um projecto inovador.

Entretanto, surgem outras faces que procuram cativar o imenso eleitorado jovem. Só nestas eleições há mais de 100 milhões de novos votantes.

Nova geração?

Recordo aqui alguns dos meus comentários sobre esta "nova geração", do artigo Os príncipes herdeiros, de Francisca Gorjão Henriques, Público, 12 de Janeiro.

"Eu não falaria tanto numa nova geração de políticos, mas mais de uma nova geração de eleitores", comenta ao P2 Constantino Xavier, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova (IPRI). "E por arrasto, os partidos procuram cativar a nova classe eleitoral através de estratégias de marketing - Internet, telemóveis - e de temas nacionalistas, que apelem a uma Índia superpotência futura."

Os candidatos jovens são, por isso, o melhor instrumento para fazer passar a mensagem. "Muitos são filhos de grandes magnatas industriais, estudaram fora, têm um discurso a favor da liberalização económica, mas nacionalista em termos de projecção do país", continua. Dão também ênfase à ciência e tecnologia: "São muito bem formados e reconhecem no papel dos cérebros o pilar para o projecto Índia." Será também uma geração mais preocupada com a abertura ao exterior, sobretudo aos EUA, onde muitos estudaram.

"Omar tem um discurso inovador a nível intelectual, em termos do papel da Índia no mundo, da religião... Outros limitam-se a seguir as pisadas dos pais, a seguir a lógica dinástica da sucessão", continua Xavier.

De qualquer forma, a imagem da democracia indiana está desgastada e precisa de uma nova visão. Diz Constantino Xavier: "Assiste-se a uma transformação da política indiana, que está a deixar de ser o monopólio das gerações mais velhas" devido à entrada em cena de maiores índices de literacia, às novas tecnologias, "a um projecto que contrasta com as ideias políticas cinzentas pós-Nehru, com um projecto de futuro... Os jovens estão interessados em fazer esse debate."

O sucesso estudado


Três livros para compreender o "sucesso" da democracia na Índia, um debate que se arrasta há anos no meio académico indiano e internacional.

Como "clássico", nada melhor do que o livro com o mesmo nome editado por Atul Kohli, de Princeton, que conta com contribuições de vários reputados cientistas políticos, incluindo E. Sridharan e P. B. Mehta.

Há ainda o volume editado por Ganguly, Diamond e Plattner, The State of India's Democracy.

Finalmente, o estudo financiado pela UE, IDEA e Ford Foundation, realizado ao longo de vários anos no CSDS de Nova Deli, intitulado The State of Democracy in South Asia, este também englobando... o Paquistão.

25 de Abril

Portugal comemora e debate hoje 35 anos de democracia liberal e universal.

A Índia vota.

Há duas semanas, e por mais duas ainda. Há 62 anos (com uma excepção).

24.4.09

A família

Estas fotografias da Time sobre a dinastia Nehru-Gandhi são bastante eloquentes. A Índia ainda não sabe viver sem eles.

Meia democracia ou democracia inteira

É interessante o debate sobre se a Índia pode ou não ser chamada de “maior democracia do mundo”. Claro que o é, se atendermos à sua dimensão – e é para lá que se aponta quando se diz que é a “maior”. Os que contestam falam das desigualdades gritantes, da corrupção e de políticos criminosos que acabam por levar o selo democrático à conta deste exercício eleitoral.

Mas não deixa de ser espantoso que um país-continente onde, precisamente, convivem todos os extremos, tenha como garantida a eleição por voto directo do seu Parlamento. E isto é levado tão a sério que das mais de 828 mil estações de voto, há uma que foi criada para uma pessoa só: o senhor Darshandas, guardador de um templo na floresta de Gir, no estado do Gujarat. “Sinto-me honrado por as autoridades virem aqui buscar o meu voto”, disse ele à BBC.

O historiador indiano Ramachandra Guha chama “meia democracia” à realidade indiana. Eu diria que meia democracia é melhor do que democracia nenhuma. Perguntem ao senhor Darshandas.

Oxford Analytica

Fica a duas horas de voo, mas é um daqueles eventos que só podemos desejar que se realizassem em Lisboa - seria sinal de capacidade analítica e prospectiva em Portugal e, acima de tudo, de procura de informação sobre a Índia.
India: Elections and beyond

* What role will regional parties play in the post-election political balance?
* What are the main security challenges the government will have to address?
* How is the business climate changing in a context of global slowdown?
Por aqui se responderá a estas perguntas também.

23.4.09

714 milhões

Este é um blog convidado do PÚBLICO, criado em parceria com o Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL). Acompanhamento e análise diária da 15ª edição das eleições legislativas indianas - a maior democracia do mundo com 714 milhões de eleitores.

Um processo político que não se esgota na aritmética da simples dimensão. É pela Índia que passa grande parte do debate sobre o futuro da democracia. E é por via do seu sistema democrático que a Índia ambiciona afirmar-se a nível mundial.

A coordenação está a cargo de Constantino Xavier (IPRI-UNL) e Francisca Gorjão Henriques (Público), o espaço contando ainda com a colaboração pontual de diversos convidados especialistas.