No Público de ontem:
Três perguntas a Constantino Xavier, do Instituto Português de Relações InternacionaisOs vencedores estão "absolutamente confortáveis"Como se explica esta vitória surpreendente do Congresso?Acho que há três factores. O primeiro tem a ver com a liderança. Desde o início que o Congresso identificou os seus líderes: [O primeiro-ministro, Manmohan] Singh, com o seu perfil burocrático e técnico, Sonia Gandhi, a grande obreira da coligação, e depois Rahul Gandhi. O BJP [nacionalista hindu, na oposição] tinha só Advani, que enfrenta grande oposição.
Segundo, o Congresso forjou uma coligação pré-eleitoral, enquanto o BJP entrou muito sozinho e perdeu com isso [a derrota no estado de Orissa é um exemplo]... E, em terceiro lugar, há a conjuntura económica. O crescimento manteve-se à volta dos quatro, cinco por cento, e não havia incentivos suficientes para arriscar uma mudança, que neste momento é perigosa. Há uma tendência para partidos tecnocráticos de centro, porque as pessoas não estão dispostas a arriscar.
Evitou-se então a fragmentação partidária?A entrada no Parlamento de partidos menores na última legislatura, sem cultura democrática, acabou por favorecer o Congresso porque chamou a atenção para os riscos de um caos no Parlamento [dominado pelas formações mais pequenas]. Os 20 deputados que faltam para uma maioria são uma ninharia. A UPA [Aliança Progressista Unida, coligação no poder] não se vai preocupar com isso. Está numa situação absolutamente confortável. Já não precisa de ir à caça dos pequenos partidos.
Quem são os vencidos?O grande perdedor é o BJP, que tinha tudo para ganhar em 2004, falhou, e desde aí está num caos interno. Agora voltou a perder a oportunidade e arrisca-se a passar dez anos sem governar. Este é o fim da geração Vajpayee-Advani [ex-primeiro-ministro e o actual líder do BJP]. Advani foi o arquitecto do crescimento [dos nacionalistas hindus, na década de 1990], agora o partido vai ter de procurar um novo líder.
O segundo derrotado foi a esquerda. O Partido Comunista esteve associado ao caos do Verão passado. Ao retirar-se a meio ano das legislativas para se distanciar do Congresso [por oposição a um acordo nuclear com os EUA] ficou visto como oportunista. Para além disso, os comunistas mantêm uma linha ideológica conservadora que é uma contradição com as alianças que vai forjando com o grande capital.
E o terceiro perdedor foi a Terceira e Quarta Frente [alianças de partidos regionais e de castas], que nunca achei que fossem viáveis.
Francisca Gorjão Henriques