18.5.09

3 perguntas

No Público de ontem:

Três perguntas a Constantino Xavier, do Instituto Português de Relações Internacionais

Os vencedores estão "absolutamente confortáveis"

Como se explica esta vitória surpreendente do Congresso?
Acho que há três factores. O primeiro tem a ver com a liderança. Desde o início que o Congresso identificou os seus líderes: [O primeiro-ministro, Manmohan] Singh, com o seu perfil burocrático e técnico, Sonia Gandhi, a grande obreira da coligação, e depois Rahul Gandhi. O BJP [nacionalista hindu, na oposição] tinha só Advani, que enfrenta grande oposição.
Segundo, o Congresso forjou uma coligação pré-eleitoral, enquanto o BJP entrou muito sozinho e perdeu com isso [a derrota no estado de Orissa é um exemplo]... E, em terceiro lugar, há a conjuntura económica. O crescimento manteve-se à volta dos quatro, cinco por cento, e não havia incentivos suficientes para arriscar uma mudança, que neste momento é perigosa. Há uma tendência para partidos tecnocráticos de centro, porque as pessoas não estão dispostas a arriscar.
Evitou-se então a fragmentação partidária?
A entrada no Parlamento de partidos menores na última legislatura, sem cultura democrática, acabou por favorecer o Congresso porque chamou a atenção para os riscos de um caos no Parlamento [dominado pelas formações mais pequenas]. Os 20 deputados que faltam para uma maioria são uma ninharia. A UPA [Aliança Progressista Unida, coligação no poder] não se vai preocupar com isso. Está numa situação absolutamente confortável. Já não precisa de ir à caça dos pequenos partidos.
Quem são os vencidos?
O grande perdedor é o BJP, que tinha tudo para ganhar em 2004, falhou, e desde aí está num caos interno. Agora voltou a perder a oportunidade e arrisca-se a passar dez anos sem governar. Este é o fim da geração Vajpayee-Advani [ex-primeiro-ministro e o actual líder do BJP]. Advani foi o arquitecto do crescimento [dos nacionalistas hindus, na década de 1990], agora o partido vai ter de procurar um novo líder.
O segundo derrotado foi a esquerda. O Partido Comunista esteve associado ao caos do Verão passado. Ao retirar-se a meio ano das legislativas para se distanciar do Congresso [por oposição a um acordo nuclear com os EUA] ficou visto como oportunista. Para além disso, os comunistas mantêm uma linha ideológica conservadora que é uma contradição com as alianças que vai forjando com o grande capital.
E o terceiro perdedor foi a Terceira e Quarta Frente [alianças de partidos regionais e de castas], que nunca achei que fossem viáveis.
Francisca Gorjão Henriques

3 comentários:

  1. De acordo, mas o BJP tinha uma coligação bem mais forte (a NDA) do que a UPA, nomeadamente com o partido vencedor no Bihar (Nitish Kumar) - que agora se procura desmarcar dos vencidos - e uma aliança estadual com o Patnaik, também vencedor absoluto em Orissa, agora igualmente equidistante, sobretudo depois dos massacres dos cristãos. e não subestime, que a estratégia do rahul de concorrer sozinho no UP e Bihar foi acertada!

    a) O almoçante no Restaurante UAI

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  2. Se o BJP tivesse tido uma "coligação [pré-eleitoral] bem mais forte", como refere, teria ganho as eleições com a NDA ou, pelo menos, conseguido um resultado mais próximo do de 1999!

    A NDA teve resultados bons no Bihar (e Chattisgarh e Karnataka também) é certo, mas perdeu o apoio do Patnaik em Orissa (BJD) *antes* das eleições - mais um exemplo do falhanço pré-eleitoral que custou caro ao BJP - apoiou-se com demasiada confiança na probablidade de um parlamento fragementado, em que iria concentrar os seus esforços no período pós-eleitoral, que todos (incluindo eu) anteviam extremamente complexo e prolongado.

    Sobre a estratégia "solo" de Rahul, tão glorificada nos media: Primeiro, nunca foi uma "estratégia", muito menos a "dele": SP e BSP não estavam interessados numa coligação com o INC, por isso foi mais necessidade do que escolha. Pode ter sido influente, mas não foi determinante o factor de Rahul: o voto parece ter sido a favor da estabilidade governamental (estadual e nacional) contra as políticas divisórias de casta e "issue" e, no caso do UP, particularmente contra o oportunismo político de Yadav do SP e de Mayawati do BSP durante os últimos 2 anos).

    A própria transformação do BSP de partido exclusivamente dálita para um de arquitectura "contra-natura" dálita-brâmane (como nas eleições regionais de 2007) reflecte esta nova tendência eleitoral que privilegia a estabilidade e "governance" (veja-se o caso Bihar de Nitish Kumar) à política de casta e identidade que arrasou o planalto do Ganges nas últimas duas décadas.

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  3. Belíssima análise. Como dizes, uma das grandes questões do futuro próximo é quem vai tomar o poder no BJP, nomeadamente qual o peso que o «factor Gujarat» terá no partido. Vai ser um período interessante na política indiana. Suspeito que se não cometer erros o Congresso poderá reassumir uma posição fortemente dominante para a próxima década e o BJP arrisca-se a tornar-se uma irrelevância a nível nacional.
    Resta saber que impacto é que isto tudo vai ter em Goa. O BJP local criou uma imagem de boa governação mas num contexto de alinhamento com o governo central. Periodicamente fala-se de Parrikar dar o salto para a política nacional. A ver vamos se este não é o momento propício...

    Sérgio

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