27.4.09

Quem mais vota

Ao contrário de muitas zonas do mundo, as eleições indianas têm visto aumentar a sua participação. E não por parte da classe média urbana, mas da população mais pobre e rural. Os níveis de afluência às urnas ou estabilizaram, ou aumentaram, provando que os indianos estão bastante ligados à política. O cientista político Yogendra Yadav diz que a percentagem de pessoas filiadas num partido, ou que se identificam com um partido, é maior na Índia do que em muitas outras democracias europeias ou na americana. O Asia Times Online fala também sobre isso neste artigo.

2 comentários:

  1. Este assunto é realmente interessante. Há até uma politóloga indiana, Kanchan Chandra, professora na NYU, que desenvolveu uma tese de ciência política a partir daqui.

    http://books.google.com/books?id=s9cYoZaNxMcC&dq=Kanchan+Chandra&printsec=frontcover&source=bl&ots=H8n5Z9RBP5&sig=Q-vfeSkgbZA67kQQQYcHLJ5Bzv8&hl=en&ei=4kP3SffoEMG2jAfQ5JXWDA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8#PPR20,M1

    Chandra diz que a democracia na Índia funciona como um leilão, e o que é leiloado são os serviços do Estado. Isso explica o aumento da participação eleitoral na Índia, e especialmente o aumento da participação dos mais pobres.
    É claro que os bens do Estado são apropriados por diversos grupos sociais por diversas formas (corrupção, clientelismo, etc.), mas a especificidade da democracia eleitoral é que, sendo também uma forma de apropriação "particularista" dos serviços do Estado, a favor de um grupo, a lógica a que obedece o leilão é a do voto, a do número de cabeças. É portanto uma espécie de leilão em que os mais pobres não estão necessariamente em desvantagem.
    "India's is a 'patronage-democracy' in which elections have become auctions for the sale of government services." "Voters believe they can count on state services only when the politicians whom they have paid with votes are in power and not otherwise".
    Um dos dados que sustentam a teoria de Chandra é o facto de a participação eleitoral (enquanto eleitores e enquanto candidatos) das classes subordinadas da Índia estar a aumentar, porque isso comprova a eficácia do leilão eleitoral. Uma das razões por que a tese é tão interessante é que procura explicar a sustentabilidade da democracia num contexto tão difícil como a Índia, sem recorrer a uma lógica idealista (ai, que linda que é a democracia e a liberdade). Além disso, dá pistas para compreender o funcionamento da democracia não apenas no "3º mundo", mas também nos países "avançados". A importância da "patronage politics" aqui também está a ser estudada.

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  2. Excelente referência - a metáfora de Chandra explica muito bem o que realmente se passa em termos de nova mobilização política e que é referido na literatura especializada como "democratic upsurge".

    Mas há um debate associado na Índia que aborda uma questão bem premente: até que ponto pode/está a ser o Estado indiano leiloado e desmantelado por grupos de pressão e reivindicação? Até que ponto o Estado e os seus serviços associados deixam assim de ser um bem público, universal a todos os cidadãos? Em Nova Deli é essa a maior preocupação: como evitar que o leiloeiro passe a leiloado...

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